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Solange O. Farkas
Curadora-geral do 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil
Ana Pato, Beatriz Lemos, Diego Matos, João Laia
Curadores convidados
Em momentos como o atual, de crises, impasses, catástrofes, disputas narrativas acirradas e constantes reordenamentos sociopolíticos locais e globais, a exposição Panoramas do Sul e os artistas representados nela trazem à tona o desejo da arte de ampliar e subverter nossas concepções de mundo. Pautada pela vocação política desde sempre, a produção do Sul ganha protagonismo e se refina em um cenário de retrocesso e incerteza, ressoando com potência crescente à medida que se legitima e institucionaliza. A ampliação de sua presença no mundo da arte e o reconhecimento da importância das perspectivas do Sul em qualquer concerto global de vozes tornam evidente o acerto da aposta nesta região simbólica, alinhavada há mais de vinte anos pelo Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil.
O impulso de investigar as áreas de produção do conhecimento e seus limites – que se revelou de forma patente na apreciação do total dos trabalhos inscritos – marca as práticas artísticas reunidas nesta vigésima edição, num conjunto de mais de setenta obras de cinquenta artistas. Borrando fronteiras entre arte e ciência, elas nos levam em uma viagem à origem da história, das sociedades e da Terra. Reverberam o estudo da vida, da evolução do universo, das dinâmicas sociais ao longo da história, da invenção de novas formas de fazer política. Ao permitir uma leitura integrada de arte, cultura, astronomia, biologia, história e geografia, o corpo dessas investigações artísticas traduz a ideia de que somente um alargamento de nossas concepções será capaz de restituir liberdade à imaginação humana e expandir saberes atados aos modelos e mecanismos ocidentais de produção e legitimação da verdade.
Ocupando espaços múltiplos do Sesc Pompeia, em forma de exposição, programa de vídeo e performances, os trabalhos inspiram um partido curatorial aberto, do qual deriva o que chamamos de Teoria das Constelações – um pensamento que se contrapõe à ideia de precisão do campo científico e expõe as relações entre o particular e o geral, o mínimo e o todo, a certeza e a imprecisão, a arte e a ciência. As obras organizam-se em torno de seis constelações ou eixos conceituais: Cosmovisões, Ecologias, Reinvenção da Cultura, Políticas de Resistência, Histórias Invisíveis e Outros Modernismos.
Visitas, aulas abertas, encontros e ativações acabam de compor a plataforma criativa, prática e discursiva do Festival. Como as obras, estas ações reafirmam as ideias de resistência, alteridade e dissenso, em sua capacidade transformadora, como os paradigmas mais importantes da consciência humana.
No amplo espectro político para o qual a arte contribui, a opção declarada pela pesquisa que produz experiências potentes de resistência, pluralidade e transformação traduz nosso intuito de caminhar na direção contrária ao esvaziamento progressivo dos discursos hegemônicos que circulam e moldam o campo da arte. As práticas representadas nos Panoramas do Sul opõem-se ao esmagamento progressivo de nossos horizontes, assim como ao obscurantismo e o conservadorismo que transpiram na vida pública mundo afora e, em especial, no Brasil. Assim, oferecem sua contribuição para preservar, ainda que penosamente, alguma perspectiva de futuro.